segunda-feira, 4 de abril de 2016

Finalmente, o arvorecer

Dia primeiro do mês de Abril, um trágico dia para muitas pessoas, muita piada ruim, muita calhorda, mas um fatídico dia para este cidadão que vos escreve. Primeiro de Abril. O dia em que eu perdi meu lacre e celibato bucal de mais de dois anos para um lado meu feminino. Explico.

Inicialmente, queria pontuar que estou em meio a madrugada realizando os toques finais para entrega de uma das partes do meu trabalho de conclusão de curso, claro que eu fui quem mais realizei e fiz parte deste trabalho, que sem mim, estaria em frangalhos e miúdos, logo, escreverei de maneira breve, pouco poética, apaixonada e frenética, visto que o tempo me sufoca.

Era um domingo de Páscoa. Dia santo. O domingo de Páscoa geralmente é marcado pelo renascimento, pela criação e surgimento de coisas novas, e assim foi. Cinco da tarde, me pipoca no celular uma mensagem, bom, um convite, para conhecer uma garota que "era a minha cara". Bom, eu há anos não tenho nada, vamos lá, pensei eu. E claro que me engajei nisso. A garota, bom, realmente, era igual a mim. A minha cara metade, em tudo. Tudo que fazíamos, tudo que falávamos, assistíamos e vivenciamos fazia parte de uma malha fina de realidade, sonho e experiencias, com as quais eu nunca compartilhei com ela, mas que ela havia feito de maneira muito parecida e muito próxima às minhas próprias experiencias. Sim. Ela é o meu espelho.

Nunca havia entendido os motivos pelos quais a Rainha veio a se relacionar com um espelho e ele se tornar seu confidente no conto da Branca de Neve, aquilo sempre me intrigou. Claro, muitas das antagonistas destas estórias faziam parte de alguma quebra na normalidade da vida das protagonistas, das princesas. Sempre a madrasta no lugar da mãe, a fera no lugar de nobres e assim vai. Contudo, neste conto, a má é a Rainha, a protagonista, e a Princesa, a própria Branca, bom, ela é serva dessa Rainha. Estranho, não? É o que eu sempre penso. Enfim. A rainha apresenta comportamentos que vão além do comum, do mágico e do onírico em um conto de fadas, ela encarna no espelho um amigo, um confidente, uma espécie de sócio e de cúmplice, tudo ao mesmo tempo. Nunca aparecem os porquês do Espelho servir à Rainha Má, só que ele é mágico e satisfaz seus caprichos, sem meias palavras e sem omissões. Ele é um espelho que não reflete, ele vê.

Com essa pequena introdução, volto à minha história de hoje. Ela, sim, é meu eu feminino. Em menos de uma semana eu descobri isso. E logo na segunda semana, que ontem completou, bom, acho que eu já a perdi.

Em uma semana, ela me mandou fotos, nos elogiamos, nos beijamos e nos acariciamos. A acompanhei até em casa e ficamos lá, nos beijando e conversando por alguns minutos. Foram horas de beijos em um encontro de poucas horas. Sim, o saldo foi extremamente positivo, eu saí feliz como nunca, planejando mil coisas e tendo a vitória como certa, de que a guinada da minha vida seria ali, sai espalhando pra todo mundo o que tinha acontecido e contei a todos que eu estava afim e namorando alguém. Bom. Engano meu.

Ela há um dia não fala comigo. Achei estranho e fui olhar o histórico dos últimos dias. Sexta-feira foi o dia dos beijos, próximo, sábado, dia da festa. Ignorei a pobre por quase um dia inteiro com a desculpa de que estava em um sítio com muito pouco sinal. Claro, aquilo era mentira, mas eu não iria ficar me sujeitando a climões ou coisas assim. Estava felicíssimo com o que estava tendo e não queria perder aquilo. E, bom, enchi a cara naquele dia. Garrafas de cerveja e copos e mais copos de caipirinha me fizeram declarar-me, afugentar-me e indagar coisas PARA ELA que eu jamais diria sóbrio. Já disse que tinha em minha cabeça a vitória como ganha, bom, agora, eu tenho a incerteza, a fraqueza e a derrota como aliadas. A madrugada do sábado para o domingo foi realmente horrorosa. Mensagens sem sentido, nenhuma risada, falei muito do que estava acontecendo ali e o que estava pensando. Pensando? Que queria. Acontecendo? Piriguetes. Alienadas, mortas e sofredoras da própria carne e do próprio desejo vazio de se tornar alguém através da carne e do nome das falsas redes sociais e linhas de relacionamentos. Eu comentei essas duas coisas em poucas mensagens. No domingo, ela já estava estranha. Foi o primeiro dia em que eu dei oi, e a bombardeei. Eu não deixei a pobre pensar, agir, queria conversar e simplesmente, acabou que não rolou, um clima horroroso foi posto ali e ela respondia curto, seco, sem muito brilho no olhar.

Fiz cagada. Fui burro. Perdi o certo. Mais uma vez.

Amanhã ou depois eu mesmo irei chamá-la, pedir desculpas e tentar esclarecer a minha situação quando me embriago e estou em festas com desconhecidos por todos os lados. Eu odeio beber, eu amo beber. Eu odeio me magoar e estar magoado, eu sempre magoo e termino magoado. Dessa vez, eu quero consertar para melhorar. Uma semana e eu estraguei tudo. Quero voltar já. Ela é tão legal, tão linda e inteligente, espero que essa seja a coisa certa. Rezei muito no dia primeiro. Pedi para que fosse ela, foi. Agora quem tem de fazer isso se tornar algo grande, bom, sou eu. Do céu ela já caiu no domingo de Páscoa.





Ou será que eu desisto e deixo ela vir?

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