quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Meu tio, que poderia se chamar Alexandre e ter nascido em 1996

Eu tenho um tio, querido, que mora na casa do lado da minha. Ele, diferente de mim, está há anos no alcoolismo. Digamos que, ele está diagnosticado com alcoolismo, eu não. Ele, depois de um ano sem beber nem nada, começou a beber. No dia em que eu trabalharia com ele. Ele dizia que se sentia muito sozinho lá onde estava trabalhando. A culpa é minha.

Acontece que, eu, aqui, trabalhando na mesa, sentindo um frio do caralho, um vazio, uma dor, ouço a porta que ele arrebentou bater no trinco. Abandonada. Largada. Ele, diferente de mim, igual a mim, descontrolou-se. Arrebentou as amarras e foi viver. Sofrer aos olhos dos outros, ao invés dos próprios olhos.  Ao invés de só sofrer na própria cabeça. No próprio coração.

Meu tio, sou eu com 40 anos. Viveu um grande amor, uma esposa que o fazia feliz, o fazia satisfeito (em relação a sexo, alegria, conforto, companheirismo. E o abandonou. Na merda. Ele está há anos sem ver a filha, a ex-esposa. Ela fugiu, virou outra pessoa, um outro alguém. E ele até hoje, não conseguiu ser feliz. Não conseguiu ser confortável com alguém. Sou eu. Eu.

Eu, assim como ele, quero viver só. Quero simplesmente sumiu daqui. Parece que eu estou bem, mas digito esse texto ou transcrevo esses pensamentos com a cabeça abaixada e encostada na mesa e choro. Muito. Digito sem olhar, choro sem pensar, sofro sem ter pra quê. Não consigo viver. Seguir. Tá foda. Eu to realmente maluco. Choro por nada. Sofro. Quero beber, me destruir. Não quero me matar, não quero me cortar, me mutilar. Fisicamente. Sentimentalmente sim. Não quero voltar, não quero você. Não quero mais essa dor. Não quero MAIS dor. Chega. Já escrevo 'choro' ao invés de 'chega'. É o meu momento de dor. Não sofro por amor, sofro por, sei lá, perdi um braço. Não volta mais. Perdi uma perna, não ando mais, sabe? Só que ao invés disso, perdi o coração. 

Choro muito. Fui ali ver meu tio (tenho que vigiá-lo para ele não sair. Caso ele sair, ele não volta pra casa. Assim como eu) e ele está roncando, tem um balde que ele pode vomitar (e vomitou), e o travesseiro tá muito molhado. Na altura dos olhos. Ele tá bem magro. Muito. O cobri, tá frio pra caralho. Eu, mais que ninguém, sei disso.

Sou eu, com 40 anos.

Sou eu, hoje.

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